sábado, 29 de junho de 2013

A tua história

Nô.

Esta história não é da minha autoria. Tu sabes. Ontem a tua amiga Ana (a autora) leu-a para ti junto à tua campa.
Mas não te importas que partilhe com o resto dos teus amigos que não ouviram, pois não?

Sinto que não.

"Querida Nô, sabias que a tua mamã adora histórias de embalar? Quando éramos mais novas, aninhadas na cama, eu ia falando baixinho, lengalengando, enquanto o João Pestana a levava pelos sonhos. Suponho que os sonhos embalados em histórias são sonhos leves, luminosos, risonhos, felizes. Hoje a história é para ti. O teu sonho será um sonho feliz, ouve com atenção. Estás aninhada no colinho da mamã, o papá está mesmo em frente e, transportada pelo vento, entra pela janela o sussurro da história que te conto, em pezinhos de lã, e diz assim…

Era uma vez uma menina pequenina. Tão pequenina que cabia na imaginação. Nessa altura, a menina pequenina saltava de trampolim em trampolim, entre nuvens imaginárias. Um dia lá estava ela, de vestido verde, estampado com as flores que enchem os montes na primavera. No dia seguinte, deitada no jardim, ouvia as andorinhas cantar e espreitava, por entre as árvores, o sol a raiar. Na outra nuvem, baloiçava rio abaixo e sentia a brisa fazer-lhe cócegas, zumbindo entre o cabelo e o pescoço. Até que, um dia, o salto foi tão grande, tão grande, que tropeçou e caiu numa grande barriga. Assustada, a menina pequenina aninhou-se a um canto. Tudo era novo ali. Até que, de surpresa, no meio do silêncio, ouviu ao longe alguém a falar. Era uma voz que ecoava por entre o lago onde boiava. No início não entendia… soava-lhe tão diferente do zumbido do vento, do canto das andorinhas, da água do rio. Mas era uma voz doce, que ao mesmo tempo que a despertava, lhe fazia vibrar o corpo. Com o tempo, a menina pequenina deixou de se sentir assustada. Agora, curiosa, tentava perceber o que acontecia para além daquela barriga. Ela não sabia que, quando o seu corpo dançava num turbilhão, alguém cá fora brincava com um coelhinho, correndo de um lado para o outro. Não sabia que, quando de repente a barriga se enchia de um perfume frutado (que ela tanto gostava), era porque alguém tinha comido maçãs. Não sabia que, quando a barriga a fazia saltitar lá dentro, alguém cá fora ria. Era tão bonito viver na barriga. O que ela estranhava era aquela palavra que às vezes ouvia, ‘amor’, e com a qual a barriga estremecia. O que seria aquela palavra, que deixava a barriga num ambiente sereno, prazeirento e seguro? Nessas alturas, a menina pequenina sorria e o seu coração batia mais depressa. Aquela palavra devia ser especial, pensava.

Um dia, a menina pequenina cresceu e deixou de caber na imaginação. Num ápice, a barriga deixou de ser um lugar escuro e a menina deu por si envolta num banho de luz. Foi como se as folhas se tivessem afastado, deixando passar todos os raios que, antes, tinha visto procurar caminho entre as árvores do jardim. Quando finalmente a luz esmoreceu, a menina sentiu o seu peito encher-se de ar. Que liberdade!, gritou para o céu! Foi como se tivesse, novamente, a saltar de trampolim em trampolim, pelas nuvens.

Mas fazia frio ali… e, à sua volta, eram todos tão grandes! Lembravam-lhe Gulliver, um menino que um dia fora pequenino mas que, havia crescido tão depressa, tão depressa, que rapidamente caíra da imaginação abaixo. Os gigantes não tardaram a envolver a menina numa manta, que ficou arranjada de tal maneira que lhe fez lembrar um casulo de borboleta. Depois, aconchegaram-na numa casinha quentinha e levaram-na num passeio. Subiram para tão alto, tão alto, que a menina conseguia ouvir as andorinhas que voavam lá em cima, entre as nuvens.

Quando deu conta, havia dois grandes pares de olhos a admirá-la. Eram os olhos mais ternurentos que alguma vez vira. Castanhos, pestanudos, cheios de esperança e de ternura, olhavam-na com um carinho tal que o seu coração, envergonhado, palpitou tão depressa quanto daquela vez, na barriga. Seria aquilo o significado da palavra amor?, sorria. Aqueles olhos não tardariam a montar plantão junto ao seu casulo. Sentia-se tão segura e protegida que o seu peito se enchia de uma serenidade nunca antes experienciada.

Um dia, um daqueles pares de olhos recolheu-a e envolveu-a no seu colo. Havia um cheiro a maçã no ar. O outro olhar, apoiado no alto da montanha, foi de encontro aos seus olhos e, numa comunicação muda, a menina soube que podia adormecer descansada. Agora sabia o que era o amor.

Os olhos humedeceram, refletindo a imagem da menina, guardando-a para sempre. Enquanto isso, já a menina saltava de trampolim em trampolim, entre as nuvens esponjosas, branquinhas e angelicais.

Ouvia-se, ao longe, o vento assobiar entre as árvores do jardim. As andorinhas cantavam as baladas de verão. Os campos estavam repletos de flores. E a menina pequenina era feliz."

Desculpa Nô se eu fiz algo de errado para que a tua história seja tão curtinha...

Beijo enorme do teu papá,
AF

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Amigos

Olá Nô!

Como estás? Achas que o teu corpinho gostou do sítio onde ficou? Eu acho que gostas.
Tem relvinha, tem passarinhos a cantar, tem uma árvore para te dar sombra.
E ficaste lá com muitas flores!

Viste a quantidade de amigos e família que te foi ver? Gostaste da cerimonia? Acho que foi bonita.

Desculpa o papá e a mamã não terem tido a coragem de te ver pela última vez. Acho que compreendes. Para nós tu já não estás ali. Aquele era um corpo que tu usaste para chegar a muitas pessoas! Tinhas uma alma muito maior que aquele teu corpo permitia albergar.

Mas voltando ao assunto do titulo do post - os amigos.

Tens tanta gente que gosta de ti! Não consigo enumerar nem nomear todas as pessoas que foram despedir-se de ti. E sabes o que lhes disse quando eu me despedi das pessoas? Que não se esquecessem de ti.

Foste um exemplo brutal de viver. Como disse à tua mãe durante o funeral e pegando nas palavras do padre - "Não importa quanto se vive. Importa é como se vive."

E espero que os teus amigos vejam isso. Eu e a tua mãe conseguimos ver isso bem agora.

Ainda não conseguimos bem alcançar qual foi a tua razão maior de teres vindo e partido cedo demais... Mas já percebemos muitos ensinamentos que nos deste.

O teu pai foi muito forte durante o funeral. Não se foi abaixo e ajudou a mãe nos momentos em que ela esteve mais em baixo. E falou contigo quando esteve a vacilar. Estás orgulhosa do teu pai?
Espero que sim.

Beijinhos princesa Leonor.
AF

Funeral

Nô,

Dá-me força para sobreviver ao que aí vem.
Importas-te que fale contigo enquanto fazem descer o teu corpinho à terra?

Eu sei que vais lá estar.
Mas vai ser muito complicado ver as outras pessoas a chorar por ti. Aquelas que não te sentem como eu te sinto. Aquelas que não sabem que os passarinhos que cantam todas as manhãs à janela do nosso quarto desde ontem são enviados teus.
Vai ser complicado...
Mas com a tua ajuda eu vou resistir. E ter força. E vou melhorar. Vou ser melhor marido para a Ana. Vou ser melhor cidadão. Vou ser melhor pessoa.

Estranho mundo este que são os filhos que deixam legados aos pais.

Até já minha princesa.

AF

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Lembrar

Nô:

Amanhã é o teu funeral.
Mas é assim que vou me lembrar de ti para sempre.


(Durante muito tempo pensei se devia ou não partilhar este video a pessoas fora do meu grupo muito restrito de amigos e família mas neste momento a Nô não é só minha. Não é só deles. É do mundo.)

Beijinho grande minha princesa, minha estrela do norte.
O teu pai.

Dia 6....

Olá Nô...

Estou a escrever isto mas sei que tudo o que penso tu sentes.
Escrevo para ti mas o objectivo é mais tarde eu me lembrar deste momento...

Sinceramente não sei bem o que te dizer, agora que já não te visito todos os dias na UCIN.

Foste a pessoa mais importante da minha vida durante uns dias e continuas a demonstrar a tua força dentro de mim. Quando te sinto...
Admito que ás vezes não te sinto. E nessas alturas choro. Choro muito. Choro tanto que por vezes penso que já não tenho mais lágrimas para chorar. Mas nessas alturas volto a chorar mais um bocadinho.

Choro quando me lembro dos teus olhos (a tua avó diz que os teus olhos eram iguais aos meus).
Choro quando me lembro do movimento fino das tuas mãos delicadas de dedos compridos (como os da tua mãe)
Choro quando vejo uma foto tua.
E finalmente choro quando me lembro de olhar para a máquina e ver que a mesma dizia que o teu coração tinha parado...

E ainda assim não trocava estes 6 dias por nada na minha vida. Não te trocava por nenhuma criança.
Foste a maior lição da minha vida.
Aprendi contigo que temos de viver as nossas vidas felizes e plenos de amor. E não importa quando tempo estamos aqui na Terra, temos sempre de dar 100%.

Fizeste-me feliz. Ensinaste-me o que é amor incondicional. Ensinaste-me o que é sofrer por alguém que amamos e ensinaste-me que amor também significa libertar.

Dissemos-te que poderias ir se achasses que ias começar a sofrer.
Nenhum pai quer ver uma filha a sofrer.
Por egoísmo. Por querer te cá em casa. Grande e saudável.
Ias sofrer muito a partir de ontem. E morreste como nasceste e viveste: feliz e cheia de amor.

Nos braços da tua mãe.
A olhar para mim.

Dói... Dói muito.
Sinto um vazio enorme.
E no entanto sei que agora carrego contigo para todo o lado. Por isso em breve vou sentir-me mais completo que nunca.

Prometo que eu e a tua mãe vamos nos apoiar mutuamente. Agora que sabemos o que é amor é mais fácil.
Não temas por nós. Nós somos fortes. Ainda que às vezes pareçamos fracos, somos fortes.

Espero que estejas a ler isto.

Amanhã é o teu funeral. Não é despedida. Nunca me vou despedir de ti. Tu estás aqui.

Estás, não estás?

Um beijo enorme que nunca te dei,
AF

PS: temos muita gente a nos enviar mensagens de todo o tipo. Há pessoas a doar a instituições que precisam de ajuda em teu nome. E vão haver muitas mais. Tu mudaste o mundo, Nô. E não foi só o meu. Nada vai ser igual daqui para a frente.
E ainda bem...

terça-feira, 25 de junho de 2013

Dia 5

E ao 5º dia o pai fraquejou.

Uma preocupação dos médicos com a cor do abdomen da Leonor (estava algo negra tipo nódoa de impacto) e logo desabou sobre mim uma preocupação tal que não aguentei e perdi a minha positividade momentaneamente.

Agora aguarda segundo raio-x que ocorrerá ainda esta noite/madrugada. Esperemos que seja conclusivo.

Entretanto parou a toma do leite e ficou adiado o tratamento ao fecho do canal arterial que se encontra aberto (mas muito pouco aberto). Tratamento esse que é feito tomando doses de ibuprofen. O que implica pedir mais alguma coisa aos intestinos...

Com o resto da coisas a Leonor está bem e estável.

Enfim... amanhã tento desenvolver melhor o tema.

Aqui fica a foto do dia


Vou descansar.
Beijos e abraços,
AF

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Dia 4

Olá gente boa!

Mais um dia passou. E aqui estão as notícias sobre a nossa Nô. :)

Durante a noite levou um concentrado de plaquetas. Ao que parece no hemograma de ontem à noite as plaquetas estavam um pouco em baixo e por isso toca a receber um reforço externo.
Hoje de manhã foi repetido o teste e as plaquetas estavam bem lá para cima. Óptimo e expectável.

Foi também pesada de manhã e tinha naquela altura 411gr. As médicas ficaram espantadas pelo aparente aumento de peso (ainda não é suposto aumentar) mas que fica explicado pela mudança da incubadora e, como tal, da balança. Estamos a falar de graus de precisão difíceis de avaliar quando o peso é tão pouco.
Amanhã e pesada novamente na mesma balança e logo se chega a uma conclusão.

Hoje foi também o dia em que iniciou a alimentação com leite materno. Para já, avaliando a primeira dose dada, a aspiração gástrica efectuada algum tempo depois não denotava qualquer vestígio de leite no estômago. O que é óptimo. Quer dizer que "desceu". :)

Ainda não fez ecocardiograma. Houve uma confusão no pedido à cardiologia e aparentemente esperavam que o doente fosse ter até eles. Paciência. Será amanhã e não é urgente.

E pronto... estas são as notícias sobre a Leonor. Hoje a mamã já teve à tarde comigo e com a Nôno e acabamos por sair mais tarde do hospital para aproveitarmos os momentos que podemos estar com ela. A vontade era estar com ela 24h por dia mas os pais precisam de dormir e comer para estarem fortes quando a Leonor for para casa.

Por falar em mamã, a Ana faz anos hoje e escreveu das coisas mais comoventes que já li no seu blog.
Leiam e comovam-se. Ela tem o dom da escrita que eu gostava de ter e conseguiu transpor para palavras o que aconteceu na madrugada de dia 20.
http://ourmadworld.blogspot.pt/2013/06/turbilhoes.html

Hoje tirei poucas fotos. E esta incubadora parece que embacia mais que a que avariou o que torna complicado tirar fotos decentes.
Fica esta para rever mais tarde.


Beijos a abraços,
AF

PS: perdoem-me o post relativamente curto mas estou muito cansado. Cansado mas feliz.

domingo, 23 de junho de 2013

Dia 3

Olá pessoal!

Cá estou eu a dar novamente feedback.

A Leonor mais uma vez passou uma noite e dia relativamente descansada. Digo relativamente pois ao ínicio da tarde a incubadora avariou (deixou de fazer humidificação) e teve de ser substituída.
Também fez durante o dia de hoje foto terapia. Já parou pois é uma das terapias que faz perder peso. E ela de manhã tinha "apenas" 395gr.
Não se assustem. Está dento do expectável pelos médicos. Aliás, a médica dela disse que perdeu menos do que era esperado o que é bom sinal.
Ainda faltam mais uns dias a perder peso mas... um dia de cada vez.

Amanhã devem começar a dar o leite materno. A mamã já começou a tirar leite de 3 em 3 horas.

Digo devem pois depende de um ecocardiograma. Se o canal arterial estiver aberto precisa de fazer tratamento medicamentoso que vai exigir alguma coisa dos intestinos e, nesse caso, suspende-se a toma do leite. Neste momento é das fragilidades principais de prematuros com problemas de crescimento...

Entretanto a mãe já teve alta! 1 em 2 em casa. :) Fica a faltar a pequena Nô.


Aproveito agora para colocar aqui uma história que uma das Titis da Leonor nos entregou para lhe contarmos.

O Sítio entre o Céu e a Terra

Entrar numa Unidade de Cuidados Intensivos para recém-nascidos pode ser um choque. Os pais das crianças que aí recebem tratamento sentem-se muitas vezes perdidos ou afastados dos filhos por toda aquela tecnologia agressiva e desconhecida, geradora de medo ou impotência. 
A nós, médicos e enfermeiros, compete-nos eliminar essas barreiras e medos e permitir que os pais possam rapidamente estabelecer com os filhos uma relação afectiva forte – elemento importante para o sucesso global da nossa terapêutica.
Este texto tenta ser mais um contributo para que tal seja possível.

Era uma vez um sítio entre o céu e a terra onde havia um castelo pequenino.

Nesse sítio moravam umas Gentes Vestidas de Verde que viviam entre o saber e o desconhecido. Gentes que gostavam de Meninos.

Não tinham nomes, nesse sítio, mas chegavam lá muitas crianças que ainda não eram, vindas de todas as terras.

Algumas chegavam com muito frio, outras quase pretas e furiosas por terem sido mal tratadas pelos crescidos.

Muitos tremiam tanto, tanto, que era preciso contar-lhes uma longa história para eles sossegarem e perderem o medo que tiveram durante a travessia de um túnel cumprido e escuro, e tão apertadinho que mal dava para eles passarem. 


Chegavam alguns que contavam que de repente tudo tinha ficado escuro e que quando quiseram gritar por ajuda engoliram um líquido preto e espesso que os impedia de respirar.

Também lá apareciam uns, mas que se iam logo embora, todos pintados de Verde. Esses eram lavados muito bem e depois ficavam a secar debaixo de uma luz que parecia o sol, mas que devia ser diferente do sol porque em vez de ficarem todos bronzeados, ficavam era todos muito branquinhos.

Havia lá outros com ar de quem já eram antes de serem. Tinham quase sempre os olhos muito abertos e eram todos encurrilhadinhos.


Pareciam velhotes. Daqueles que da vida já sabem tudo. Muito magrinhos e com ar de quem caiu numa pocinha de lama. Estavam sempre com fome e o mais engraçado é que quando não comiam às horas certas ficavam com muitos tremeliques.


E havia também os outros. Os Meninos de Amanhã. 
Meninos que mal chegavam se iam embora para um sítio desconhecido que deve ser só deles. As Gentes Vestidas de Verde ficam sempre muito tristes quando os vêem transformar-se numa nuvem muito pequenina, tão pequenina que quando se olhava outra vez, já tinham desaparecido. Um dia, não se sabe quando, vão voltar e ensinar às Gentes Vestidas de Verde aquilo que elas ainda não sabem, para que não haja mais Meninos de Amanhã. 

De Amanhã porque vão voltar para ser.

No Castelo havia também uma sala especial, cheia de caixinhas transparentes.  Iam para lá os meninos que ainda não eram para ser.

Chegavam sempre muito preocupados porque não tinham tido tempo de aprender a respirar e ainda nem sequer sabiam tomar o leite. 

Eram todos muito pequenininhos e aquelas Gentes Vestidas de Verde começavam logo a fazer muitas coisas à volta deles. Mais tarde, quando já lhes tinham ensinado a respirar, saíam das caixinhas e contavam que ao princípio tinham tido muito medo mas que depois se divertiam imenso. Só não percebiam lá muito bem porque é que os penduravam nuns fios ligados a umas naves espaciais que tinham luzes vermelhas que apagavam e acendiam. Também contavam que ficavam cheios de vergonha quando se esqueciam de respirar. 

É que sempre que isso acontecia, descia pelos fios um anãozinho de nariz vermelho, que até piscava, muito zangado e aos berros. Nessas alturas as Gentes Vestidas de Verde ouviam aquele barulho todo e vinham logo a correr. Abriam a porta da caixinha transparente e diziam “respira Princesa (ou Príncipe, claro) senão o anãozinho zangado sopra-te no nariz”.

Só que às vezes era tão difícil respirar e estava-se já tão cansado que as Gentes Vestidas de Verde tinham pena e então juntavam-se à volta da caixinha transparente a conversar e então iam buscar outra nave espacial que tinha muitos tubos.


Metiam uma palhinha no nosso nariz, ligavam aos tubos da Nave que Sabia Respirar e era muito bom porque pela palhinha do nariz começavam a chegar bolinhas de vento muito quentinho, que iam e vinham, sem se ter nenhum trabalho. Era bom entre outras coisas porque se ficava com uma cor mais bonita e como não se tinha nenhum trabalho a respirar ficava todo o tempo para sonhar e para conversar com os Meninos das outras caixinhas. Mas essa boa vida não durava sempre e nem sequer valia a pena fazer de conta que ainda não se sabia respirar porque aquelas Gentes Vestidas de Verde parece que adivinhavam e então abriam a porta e diziam “Atenção, atenção, a Nave Espacial que Sabe Respirar vai partir”. Tiravam a palhinha do nosso nariz e pronto, começávamos a respirar sozinhos. 

Os nosso pais que passavam o dia a fazer-nos festinhas ficavam tão contentes que nós desistíamos  de fazer batota e começávamos a respirar muito bem e a tomar o leite todo.

Esse era um tempo muito bom porque tudo ficava muito calmo à nossa volta e até as Gentes Vestidas de Verde que passavam que tinham a mania de andar todo o dia a picar os nossos calcanhares deixavam de o fazer. Ficava então muito tempo para ver melhor o que se passava à nossa volta. As Gentes Vestidas de Verde riam-se muito quando nos vinham visitar e faziam caretas e contavam histórias.  

Claro que eram histórias inventadas porque nós bem víamos que lá no mundo delas as coisas nem sempre corriam bem e deviam até ser muito complicadas. Havia também tempo para conversar com um pássaro branco de bico vermelho, que olhava para nós todo o dia e nos contava como era o mar e que lá fora havia noite e dia e que era muito bom voar e ver todas as coisas bonitas que ainda havia no mundo deles. Um dia, não se sabe porquê, mudava tudo. Uma Gente Vestida de Verde chegava, abria a porta grande e dizia “Princesa, estás tão linda e crescida! Vamos sair da caixinha transparente. Anda ouvir coisas que nunca ouviste. Agora vais passar o dia ao colo dos teus pais, que te vão ensinar tudo o que nós não sabemos ensinar”. E saíamos mesmo!

Ao princípio era tudo muito complicado para nós. Os crescidos têm a mania de fazer muito barulho e depois estavam sempre a puxar-nos o nariz. Não era por mal. Só que a certa altura já era aborrecido. E depois, ainda para mais, vestiam-nos uns fatos, que eram os melhores que eles tinham, mas que faziam tanta impressão na nossa pele. Divertido era ver a cara dos nossos pais. Ficavam o dia inteiro de boca aberta e faziam barulhos tão esquisitos que nós, para eles não ficarem tristes, acabávamos por sorrir.

Às vezes havia música.

Um dia chegava sobre nós uma imensa Nave Espacial que atirava uns raios que não se viam mas serviam para nos tirar uma fotografia.

Ficávamos todos muito feios porque só se viam os osso e o que estava por dentro de nós. Uma Gente Vestida de Verde virava então a fotografia para a luz, chamava as outras Gentes e dizia “Está tudo lindo. Vai poder ir embora”. E nós que estávamos ali tão bem, e até já tínhamos amigos, íamos mesmo embora. Não contentes com isso ainda nos picavam outra vez o calcanhar. Nunca se saberá porquê!.. manias.

Depois de resolverem isso, sem sequer nos perguntarem se estávamos de acordo, escreviam a nossa vida toda nuns livrinhos cor-de-rosa para as Princesas e azuis para os Príncipes. 

Não sei se é justo contarem assim a nossa vida toda mas parece que é importante para que as outras Gentes Vestidas de Qualquer Maneira, que estão no Mundo de fora, possam tratar melhor de nós.

Mas o máximo é quando chegam os nossos pais para nos levarem.

Vêm todos muito bem vestidos e contentes mas muito nervosos. A única coisa aborrecida é que têm a mania de trazer umas roupas que ainda picam mais e vestem-nos tanta coisa que nem podemos mexer lá dentro. E tem laços que apertam e botões que magoam. Que saudades daquele tempo quando ainda não éramos mas já estávamos a ser naquelas caixinhas transparentes! Todos nus e quentinhos. Enfim, como dizem os crescidos “Agora começa uma vida nova”.

Vamos lá ver como é.

Os nossos Pais trazem então uma enorme cesta e somos postos lá dentro. Põem muito cobertores por cima de nós, o que não é nada agradável, porque fica muito pesado e além disso quando saímos para o mundo cá fora nem é possível ver se é verdade que há pássaros e sol e árvores e flores, Gentes boas e Gentes más e um mar com barcos.

Só mais tarde é que vamos poder ver isso tudo... que pena!

 
Foi tão bom naquele tempo em que as Gentes Vestidas de Verde nos ensinavam a respirar e a gostar de viver. Foi tão bom que já sabemos o que vamos ser quando formos grandes

Quando formos grandes queremos ser sempre meninos mas...VESTIDOS DE VERDE.



Era assim naquele tempo. De repente no nosso País tudo começou a mudar. Pessoas vestidas de todas as cores juntaram-se e conversaram durante muito, muito tempo. Não queriam ver tantos Meninos de Amanhã e outros, que, sendo de Hoje, nunca chegavam a ser Meninos. É que depois de nascerem não riam, não brincavam, outros não andavam e nunca podiam ir para a Escola. Tinham um mundo tão pequenino que muitas vezes não ultrapassava o quarto onde viviam. Não era justo.


As Pessoas Vestidas de Todas as Cores decidiram que, a partir daí, as Crianças só podiam nascer em Sítios entre o Céu e a Terra e nunca mais nos Sítios do Nada.

As Pessoas Vestidas de Todas as Cores começaram a andar por todo o País e mandaram fechar quase 200 Sítios do Nada e organizaram e equiparam cerca de 50 Sítios entre o Céu e a Terra. Os mais velhos ensinaram os mais novos e, em menos de quatro anos, quase desapareceram as Crianças que nunca chegaram a Ser.

Claro que as Pessoas Vestidas de Todas as Cores nunca estão satisfeitas. Têm também uma Nave Espacial, que agora é pintada de amarelo e tem umas letras a dizer Ambulância de Recém-Nascidos que, todos os dias e todas as noites do ano, vai buscar Meninos, muito, muito doentes e os traz muito quentinhos e com muito cuidado para os Sítios Onde Há Quase Tudo.

Sabiam que de todos os Países do Mundo o nosso é o único que tem esse Serviço ? Não sabiam, pois não? Mas é verdade!


Em todo o País as Pessoas Vestidas de Todas as Cores ficaram mais felizes e os Pais mais sossegados. Em menos de 10 anos o nosso País deixou de ser aquele onde havia mais Crianças de Amanhã em toda a Europa e passou a ser dos melhores do Mundo !

Também é bom não esquecer umas Pessoas de Quem Ninguém Fala. Trabalham numas casinhas distribuídas por todo o País e tomam conta das Mães. Chamam-lhes Médicos de Família e Enfermeiras de Saúde Materno-Infantil. Sem as Pessoas de Quem Ninguém Fala nunca teria sido possível conseguir o que se conseguiu.

Essas Pessoas têm aparelhos especiais para ver as Crianças que Estão Para Ser e, quando ficam preocupadas, mandam as Mães para os Sítios Onde Há Quase Tudo, para serem tratadas.

Isso é muito bom porque assim há cada vez menos Mães e Meninos de Amanhã.

Também é preciso não esquecer as Meninas(os) Que Estão Lá Sempre. São as Enfermeiras(os) que estão nos  Sítios onde Há Quase Tudo e não só tratam mas também cuidam das Crianças muito doentes.

Hoje, as Pessoas Vestidas de Todas as Cores, esperam que as Pessoas Vestidas Com Factos Escuros e Com Gravatas da Cor das Circunstâncias nunca se esqueçam das Crianças muito doentes. Às vezes ficam um bocadinho esquecidas porque as Crianças não votam, não têm partido político nem sindicato e só falam com as Pessoas Vestidas de Todas as Cores. É por isso que Pessoas Vestidas de Todas as Cores nunca as vão abandonar e falarão sempre por elas para defenderem os seus Direitos.

Hoje, quando as Crianças partem para os seus Sítios, onde vão continuar a crescer, dizem-nos sempre: quando formos grandes queremos ser sempre Meninos, mas...Vestidos da Cor do Arco Íris.

FIM

sábado, 22 de junho de 2013

Dia 2

Olá pessoal!

Vamos lá às actualizações diárias.

A noite da Leonor foi muito descansada. Desde ontem de manhã parece que os médicos acertaram com os parâmetros do ventilador e tem se mantido estável desde essa altura. Hoje o dia foi também muito descansado. Muito bom sinal.

Um sinal de potencial alarme era ter um vestígio de sangue nos pulmões, mas que depois à tarde já não se verificava. Estava limpinho tal como o estômago. :)
Também é o tipo de análise que não se pode fazer com muita regularidade pois o risco de romper alguma coisa é muito grande para uma bebé tão pequenina.

Análises ao sangue fixes. Falta ali aumentar um bocadinho a glicose mas a alimentação foi mudada durante a tarde e entretanto deve ir para valores melhores.
A transfusão de sangue deu resultado aumentado o valor de hemoglobina de forma notória.
Valores da gasimetria também num valor normal.

Entretanto foi pesada novamente e tem neste momento 407g. Está dentro do expectável perder tendo em conta o edema que entretanto já só apresenta alguns vestígios. Por isso agora é expectável começar a ganhar algum peso mas sem pressões. A Leonor tem o seu ritmo e temos de confiar nela.

Ponto alto do dia foi saber que durante a noite já fez algumas fezes ajudada por um clister! Sim... é verdade... nós pais de prematuros vibramos com estas coisas. ;)

Esta foto retrata bem o que foi o dia da Leonor.



Quanto à mãe em principio tem alta amanhã. ;) Fica a faltar trazer outra menina para casa.

Aproveito para agradecer os emails, mensagens, telefonemas, visitas, etc etc que me têm chegado e me fazem sentir aconchegado como um cobertor numa noite fria. Muito muito muito obrigado a todos. As vossas palavras de força e as vossas histórias são todas canalizadas para o meu depósito de força e transmitido à Leonor. Ela deve sentir que todo o mundo quer conhece-la. :)

Gostaria de saber quantos de vocês estão dispostos a um desafio que vos vou lançar: que tal comprometer-mo-nos a ir dar sangue?
Não custa (quase) nada e fazerem coisas boas em nome da Leonor vai dar-lhe ainda mais força!
Fica o repto.

Abraços e beijos,
AR

PS: liguei agora para o serviço e a Nono continua muito estável e descansada. O teste da glicémia já veio com resultados melhores motivado pela mudança da alimentação parentérica. Portanto, mais bons sinais!

Bombas de extracção de leite

Pessoal,

Preciso da vossa ajuda. 
A Ana em breve vai precisar de uma bomba de extracção de leite materno.

Qual aconselham? Vamos precisar de uma com alguma urgência por isso convem ser de aquisição fácil numa loja física na região da Grande Lisboa.

Obrigado e beijos,
AR

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Dia 1

Ou melhor dizendo, tempo passado desde do parto cerca de 42 horas.

Antes de mais permitam-me a correcção ao anterior post em que referi que a Leonor era aquariana. Admito que ligo pouco aos signos e deve ter sido por isso que não me lembrei de verificar que ela é efectivamente do signo Gémeos! Disso e estar a precisar de dormir urgentemente... Quem falou comigo pessoalmente ontem reparou que o meu raciocínio se degradava a olhos vistos enquanto as horas iam passado.
Foi sem dúvida o dia mais "estranho" da minha vida. Um misto de alegria, preocupação, apreensão, euforia, choro (sim, os homens também choram), e mais uma montanha de sentimentos que no papel parecem antagónicos mas que podem se sentir todos ao mesmo tempo!

Posto isto vamos lá ao que interessa.

A saúde da Leonor é de momento estável. Passou algo mal a noite, sobretudo ao nível da instabilidade respiratória.
Os valores da gasimetria eram maus ontem por isso os médicos tiveram de arranjar um compromisso decente no ventilador. Só hoje de manhã, já depois de eu estar com a Leonor, é que conseguiram estabilizar a respiração e a partir daí a Leonor passou um dia e principio da noite descansada e muito estável.
Fez também uma ecografia à cabeça (já estava programada fazer antes) e verificou-se que o cérebro não apresentou sequelas algumas da instabilidade nocturna. Muito bom sinal para aquele que é um dos maiores riscos dos prematuros.

Entretanto foi também pesada e neste momento pesa 427gr. Um valor dentro do expectável pelos médicos e como tal não é motivo de alarme, sendo que continua a ser o seu principal handicap nesta luta pela sobrevivência. Ainda deve perder mais umas gramas antes de começar a ganhar peso. É basicamente água a sair pela urina e pela pele (algo que acontecia muito menos ou nada dentro da barriga da mãe).

Hoje também foi o dia em que recebeu a primeira transfusão sanguínea. O motivo era para aumentar o nível de hemoglobina uma vez que o valor que a Leonor tinha era baixinho. Assim, espera-se, aumente a retenção de oxigénio que continua ser fornecido via ventilador. Segundo o médico nos explicou acaba por ser algo absolutamente normal.
Ah... e é A rh + como o papá.

Entretanto fica aqui a fotografia que retrata a opinião que a Leonor tem em relação às estatísticas:



Quanto à mãe, ela apresenta melhorias e hoje teve o seu momento muito aguardado de ver a Leonor. :)
Em principio Domingo volta para casa. Isto é: passa a fazer o mesmo que eu que é vir a casa dormir e voltar para o Hospital.
Espero manter este ritmo durante muitos meses. Seria um excelente sinal!

Beijos e abraços,
AR

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Dia 0

Olá pessoal,

Acho que durante muito tempo vou fazendo actualizações por aqui. Assim espero pelo menos...

Antes de mais deixem-me agradecer a todas as pessoas que nos enviaram forças e cumprimentos. Tenho tentado responder a todas mas nem sempre é possível uma vez que é de evitar a utilização do telemóvel no serviço de neonatologia. Sobretudo ficam perdidas (mas nunca esquecidas) aquelas que me chegam via twitter e facebook.
Peço desculpa se me esqueci de alguns de vós. Não foi com intenção.

Posto isto, vamos lá ao feedback.

A Leonor pelos vistos queria tanto ficar entre a mãe (caranguejo) e o pai (touro) que nasceu aquariana. Eu que apontava que ela fosse leoa de signo...
Porque leoa de alma é ela! Uma miúda cheia de genica no alto dos seus 441gr no nascimento.
Sabemos que ainda vai perder peso (todos perdem) e que o trabalho dos médicos será ainda mais dificultado. Mas temos de confiar naquela unidade brutal de profissionais. Não há dinheiro que pague aquela gente.

Quanto à mãe, está cansada (dormiu muito pouco) e faz o recuperação com calma da cesariana. Ainda não viu a Leonor, mas amanhã em principio isso acontecerá.

Dito isto, acho que vou descansar também que amanhã é outro dia para a Leonor lutar contra as probabilidades.



Abraços e beijos,
AF

Foi agora...

441g de pura lutadora, nasceste hoje por volta das 3:00.

Quando te vi não fiquei assustado (dizem que assusta um bocadinho) mas a minha alma insuflou-se de amor que não contive as lágrimas.

Quero que saibas que confio em ti e que vais saber o que é melhor para ti.

Continuas, todos os minutos, a me dar lições de vida.

És o meu orgulho e para mim és perfeita tal como és.


Beijo enorme do teu pai que neste momento não te pode tocar.
AR

(Tenho de mudar o título do blog)

É agora

Escrevo isto do meu telemóvel.

A Leonor está a nascer agora.

26 semanas. Nem 500gr tem.

Vai nascer de cesariana pq é a melhor hipótese para ela.

A Ana (minha mulher) é a minha heroína.

Escusado será dizer que é preciso toda a força do mundo para a Leonor sobreviver.

A Leonor precisa da vossa ajuda.

Vou dando notícias.
AF

terça-feira, 18 de junho de 2013

Pequeno update

Olá pessoal.

Só para dar um pequeno update do que tem acontecido. :)

Era suposto amanhã (quarta-feira) repetirmos a eco (acho que estão rapidamente a tornar-se regulares à semana) mas foi adiada. Ainda não tenho uma data nova mas imagino que seja ainda esta semana.

Seja como for amanhã é dia de ir ao Hospital Beatriz Ângelo para uma consulta com a Dra. Elsa Dias para revermos as tensões e avaliarmos o que devemos fazer daqui para a frente.

Quinta é também dia de ir ao Hospital para o ecocardiograma à Leonor. Esperemos que por aí não haja surpresas desagradáveis.

Por isso amanhã ou depois digo qualquer coisa sobre o resultado da consulta e exame.

(Hospital Beatriz Ângelo - Loures)

Escusado será dizer que estas idas ao hospital já se tornam uma fonte de ansiedade...
Dispensava mais socos no estômago, mas prefiro os socos do que não saber o que se passa. Reality check, não é?
Mas a nossa realidade é feita de optimismo e força que vocês nos têm dado.

O meu sincero obrigado a todas e todos.

PS: visitem a minha página no facebook e façam like. :) https://www.facebook.com/DiarioDeUmPaiFeliz

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Optimismo

Olá Nôno.

Pois é, cá está o pai para te dar novidades do lado de fora da barriga da mãe.

Como deves saber, e já te deves te ter apercebido, estás de volta a casa.
Desde dia 7 estás também juntinha a mim ao invés de teres de estar lá pelo hospital sozinha com a mãe.
Mas espero que estejas ciente que também depende de ti não voltares para lá tão cedo.
Para isso precisamos que a tua mãe mantenha as tensões controladas (e estão mesmo controladas!) e que repouse o máximo que possa em casa. E tu limita-te a crescer.

Ainda assim, na passada quinta-feira, vimos-te na ecografia e infelizmente continuas pequenina... Cresces. Mas pouco... Menos do que esperávamos. E desta vez os fluxos já não estão perfeitos...

Quero que saibas que os socos no estômago que eu e a tua mãe levamos todas as vezes que fazemos uma ecografia são ultrapassados com muito optimismo!
Não podemos ir abaixo quando lidamos com médicos que são muito pessimistas (diz que eles jogam pelo seguro... vais aprender o que eu quero dizer com isto) mas a tua mãe, que também é medica, sabe o poder do optimismo.
E temos sido a rocha um do outro, eu e a tua mãe. Quando a tua mãe está mais em baixo eu vou lá busca-la. E quando sou eu, é ela que sabe me levantar do chão.

Vê lá que temos de pesquisar casos de sucesso parecidos com os nossos para obter algum conforto.
E receber a força de toda a gente que fala connosco e nos escreve aqui ou no facebook.


Mais coisas...

Já penduramos quase todas as tuas roupinhas e digo-te que tens um armário bem recheado. :)
A seguir toca a comprar livros para tua biblioteca. Quero ver se começo a ler para ti o mais cedo possível.

Os planos continuam iguais.

Um dia vamos te ter nos braços e vais crescer saudável enquanto os teus pais envelhecem.

Não desistas minha princesa. Nós aqui estamos a torcer por ti e aconteça o que acontecer serás para sempre a minha princesa. Mas sem nunca te ter visto...

Princesa Leonor.



Beijos do papá.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Nôno

Hoje escrevo para ti.

Tu não sabes, mas neste momento estás a ter uma lição. Talvez a lição de vida mais importante que podes ter.
Tens 24 semanas apenas e não sabes a sorte que tens em já estares a receber ensinamentos tão importantes.

A tua lição é que se nos mantivermos unidos, tudo se consegue.
Se receberes a força colectiva, tudo é possível para ti!
Não há limites para o que podes alcançar!

Mas sabes uma coisa também? É que ao mesmo tempo eu e a tua mãe estamos a aprender tanto contigo...
Estamos a aprender a ir buscar forças um ao outro. A perceber que muitas vezes 1+1 é mais do que 2. E que 1+1+1 tem a mesma força do todo o Universo contida nele.
Basta acreditar. E sentir que tudo acontece por uma razão. Todos os minutos da nossa vida podem e devem ser de aprendizagem.
Nunca estamos completos, mas podemos nos complementar.

E crescer... tu que tanto precisas de crescer... Mais de depressa queríamos nós! Mas tu tens o teu ritmo. E fazes o que queres porque só assim sentes que podes ser alguém.
Nós não somos os teus donos.
Nunca seremos.

Mas para sempre seremos os teus guardiões.

Mal vejo a hora de te ter nos braços.
Mas leva o teu tempo! Vem cá para fora quando quiseres. Estamos prontos para te acolher. E te ensinar... temos tanto para te ensinar! E para aprender contigo também.

Há 24 semanas não sabia que era possível amar alguém sem nunca a ter conhecido...

Eu não sabia nada...



Um beijo enorme,
O teu pai.

(Está tudo bem com a ecografia e com a Ana.
Exceptuando o crescimento da Leonor que está fora do expectável. Percentil abaixo dos 5%.
Vamos repetir a eco e rever os marcadores na próxima quarta. Até lá a Ana continua internada... Pensem nela. Ela precisa da vossa ajuda também. Obrigado amigas e amigos.)

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Melhorias

Olá pessoal!

Cá estou eu para dar novidades.

Quase passada uma semana do internamento da Ana (e consequentemente da Leonor) obviamente que se exige algum tipo de feedback do vosso carinho e força que tem chegado (e bem) ao Hospital Beatriz Ângelo. :)

E as notícias são que se confirmou a diagnóstico de pré-eclampia (que a começar às 23 semanas é assustador...) mas num quadro leve.
A Ana está medicada para a tensão elevada (com alguma margem para subir a medicação caso seja necessária) e as tensões medidas estão estáveis. Espantosamente a proteína que se encontrava nas análises anteriormente, nesta última análise desapareceu!
Temos também ouvido os batimentos cardíacos da Leonor e ela é mesmo uma leoa. :) Tem se portado muito bem e espero que na próxima quinta-feira se confirme que está tudo ok com o crescimento da nossa pequena princesa.

Existe também a possibilidade da Ana e Leonor voltarem para casa se as coisas se mantiverem neste ritmo.

O plano, segundo os médicos, é às 24 semanas a Ana levar uma injecção de corticóides para maturar os pulmões da Leonor caso seja preciso tira-la de lá dentro mais cedo. 24 semanas que começarão na próxima quinta-feira...

Próximo dia D, portanto, é dia 6 de Junho.

Até lá continuem a dar força e a pensar na Ana e Leonor que ainda não estão longe de perigo, mas que com a vossa ajuda estão bem melhores.



Até quinta pessoal!

Beijos e abraços,
AR