Esta história não é da minha autoria. Tu sabes. Ontem a tua amiga Ana (a autora) leu-a para ti junto à tua campa.
Mas não te importas que partilhe com o resto dos teus amigos que não ouviram, pois não?
Sinto que não.
"Querida Nô, sabias que a tua mamã adora histórias de embalar? Quando éramos mais novas, aninhadas na cama, eu ia falando baixinho, lengalengando, enquanto o João Pestana a levava pelos sonhos. Suponho que os sonhos embalados em histórias são sonhos leves, luminosos, risonhos, felizes. Hoje a história é para ti. O teu sonho será um sonho feliz, ouve com atenção. Estás aninhada no colinho da mamã, o papá está mesmo em frente e, transportada pelo vento, entra pela janela o sussurro da história que te conto, em pezinhos de lã, e diz assim…
Era uma vez uma menina pequenina.
Tão pequenina que cabia na imaginação. Nessa altura, a menina pequenina saltava
de trampolim em trampolim, entre nuvens imaginárias. Um dia lá estava ela, de vestido
verde, estampado com as flores que enchem os montes na primavera. No dia
seguinte, deitada no jardim, ouvia as andorinhas cantar e espreitava, por entre
as árvores, o sol a raiar. Na outra nuvem, baloiçava rio abaixo e sentia a
brisa fazer-lhe cócegas, zumbindo entre o cabelo e o pescoço. Até que, um dia,
o salto foi tão grande, tão grande, que tropeçou e caiu numa grande barriga.
Assustada, a menina pequenina aninhou-se a um canto. Tudo era novo ali. Até
que, de surpresa, no meio do silêncio, ouviu ao longe alguém a falar. Era uma
voz que ecoava por entre o lago onde boiava. No início não entendia… soava-lhe
tão diferente do zumbido do vento, do canto das andorinhas, da água do rio. Mas
era uma voz doce, que ao mesmo tempo que a despertava, lhe fazia vibrar o
corpo. Com o tempo, a menina pequenina deixou de se sentir assustada. Agora,
curiosa, tentava perceber o que acontecia para além daquela barriga. Ela não
sabia que, quando o seu corpo dançava num turbilhão, alguém cá fora brincava
com um coelhinho, correndo de um lado para o outro. Não sabia que, quando de
repente a barriga se enchia de um perfume frutado (que ela tanto gostava), era
porque alguém tinha comido maçãs. Não sabia que, quando a barriga a fazia
saltitar lá dentro, alguém cá fora ria. Era tão bonito viver na barriga. O que
ela estranhava era aquela palavra que às vezes ouvia, ‘amor’, e com a qual a
barriga estremecia. O que seria aquela palavra, que deixava a barriga num
ambiente sereno, prazeirento e seguro? Nessas alturas, a menina pequenina
sorria e o seu coração batia mais depressa. Aquela palavra devia ser especial,
pensava.
Um dia, a menina pequenina
cresceu e deixou de caber na imaginação. Num ápice, a barriga deixou de ser um
lugar escuro e a menina deu por si envolta num banho de luz. Foi como se as
folhas se tivessem afastado, deixando passar todos os raios que, antes, tinha
visto procurar caminho entre as árvores do jardim. Quando finalmente a luz
esmoreceu, a menina sentiu o seu peito encher-se de ar. Que liberdade!, gritou
para o céu! Foi como se tivesse, novamente, a saltar de trampolim em trampolim,
pelas nuvens.
Mas fazia frio ali… e, à sua
volta, eram todos tão grandes! Lembravam-lhe Gulliver, um menino que um dia
fora pequenino mas que, havia crescido tão depressa, tão depressa, que
rapidamente caíra da imaginação abaixo. Os gigantes não tardaram a envolver a
menina numa manta, que ficou arranjada de tal maneira que lhe fez lembrar um
casulo de borboleta. Depois, aconchegaram-na numa casinha quentinha e
levaram-na num passeio. Subiram para tão alto, tão alto, que a menina conseguia
ouvir as andorinhas que voavam lá em cima, entre as nuvens.
Quando deu conta, havia dois
grandes pares de olhos a admirá-la. Eram os olhos mais ternurentos que alguma
vez vira. Castanhos, pestanudos, cheios de esperança e de ternura, olhavam-na
com um carinho tal que o seu coração, envergonhado, palpitou tão depressa
quanto daquela vez, na barriga. Seria aquilo o significado da palavra amor?,
sorria. Aqueles olhos não tardariam a montar plantão junto ao seu casulo.
Sentia-se tão segura e protegida que o seu peito se enchia de uma serenidade
nunca antes experienciada.
Um dia, um daqueles pares de
olhos recolheu-a e envolveu-a no seu colo. Havia um cheiro a maçã no ar. O
outro olhar, apoiado no alto da montanha, foi de encontro aos seus olhos e,
numa comunicação muda, a menina soube que podia adormecer descansada. Agora
sabia o que era o amor.
Os olhos humedeceram, refletindo
a imagem da menina, guardando-a para sempre. Enquanto isso, já a menina saltava
de trampolim em trampolim, entre as nuvens esponjosas, branquinhas e
angelicais.
Ouvia-se, ao longe, o vento
assobiar entre as árvores do jardim. As andorinhas cantavam as baladas de verão.
Os campos estavam repletos de flores. E a menina pequenina era feliz."
Desculpa Nô se eu fiz algo de errado para que a tua história seja tão curtinha...
Beijo enorme do teu papá,
AF
A minha história preferida até hoje.
ResponderEliminarDeparei-me com este blog quase por acidente num post no facebook...devorei-o, e digo---chorei que me fartei...nem imagino a vossa dor, o que viveram...e o que estão a viver...
ResponderEliminaraté hoje, agradeço ao mundo, ao universo, e quem sabe a deus se existe, por ter me garantido uma filhota perfeita e até agora, nos seus 2 anos e meio de vida, uma vida saudavel. considero-me SORTUDA com todas as letras. E comove-me, muito, quem não partilha o que eu vivi até hoje, e o que ainda vou viver. Contudo, admiro a vossa força, e sinto tanto por vós. A união e o amor ultrapassa qualquer obstáculo, e vós fizestes demais pela vossa menina. Será para sempre uma estrelhinha a olhar por vós.
Vi no face um post e m resisti em vir espreitar a vossa história. Felizmente n sei o q é perder um filho mas passei 59dias na Neo c o meu menino, passei por um gravidez difícil e c sorte o meu menino sobreviveu. Força pq ela estará sempre a olhar por vocês.
ResponderEliminarO voo do Gui
Nada fizeram de errado, promessa de quem trabalha na área.
ResponderEliminarFicamos ao vosso lado neste momento.
E esperamos, assim que for possível ao Universo, ver e conhecer novas etapas do vosso caminho e do vosso amor. ;)
Não há palavras para amenizar tamanha dor. Um abraço cheio de ternura de mais uma anonima que por aqui passou! E um beijinho especial ao anjo que mudou as vossas vidas. Força!
ResponderEliminarRita
Que história tão doce, e nada de mal aconteceu nela. Foi como era suposto ser, é uma linda e doce história.
ResponderEliminarAs próximas não serão tão curtas, eu acredito e tu também. Força, que tudo corra bem